Thursday, January 30, 2020

A inocência perdida




Por Fabíola Tarapanoff


       Trilha sonora envolvente, carros conversíveis e palmeiras balançando ao vento. É 1969 e tudo é possível na cidade dos anjos. O star system já foi questionado pelos enfant terribles do cinema autoral, como John Cassavettes e não é à toa que o filme Era uma vez em Hollywood foca em um deles: Roman Polanski. Antes da polêmica de ser acusado de pedofilia, Polanski era o diretor cult do momento, ao ter produzido O bebê de Rosemary e namorava uma estrela em ascensão: Sharon Tate. Tudo parece perfeito e repleto de glamour nas festas repletas de celebridades em mansões como do dono da Playboy, Hugh Hefner. Mas um pouco abaixo da superfície, havia uma sociedade em ebulição: movimento hippie, Guerra do Vietnã, protestos em todo mundo contra ditaduras, um caldeirão que leva ao surgimento do melhor e do pior da humanidade. Foi a época em que surgiu a seita que seguia Charles Mason: Charles "Tex" Watson, Susan Atkins, Patrícia Krenwinkel e Linda Kasabian. No dia 8 de agosto de 1960 eles invadiram a casa de Cielo Drive a mando de Mason, matando com 16 facadas a jovem atriz, que estava grávida. Mataram ainda Jay Sebring (seu ex-namorado), Abigail Folger e Wojciech Frykowski. Na casa também estavam o caseiro William Garretson, que morava em uma construção menor afastada da casa principal e seu amigo, o estudante de 18 anos, Steven Parent. Na noite seguinte, o mesmo grupo, acrescido de Steve Grogan e Leslie Van Houten, mataria de forma bárbara o casal Leno e Rosemary LaBianca. Em 1974, Vicent Bugliosi (promotor de acusação de Mason e dos membros da seita, condenados à pena máxima) escreveu o livro Helter Skelter (uma das músicas dos Beatles favoritas de Mason), contando em detalhes sobre esses casos. 

    Em sua nona obra, Tarantino continua usando seus recursos como ninguém: apresenta histórias cruzadas de vários personagens que em um determinado momento se encontram, o que confere sabor à narrativa, a auto-referência e momentos catárticos, com explosão de violência. A história principal é do ator Rick Dalton (Leonardo Di Caprio, brilhante no papel), que acha que sua carreira está em decadência, depois de trabalhar em filmes de ação e Western. Ele sempre é acompanhado por Cliff (Brad Pitt, ganhador do Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante). Dalton recebe o convite do produtor de cinema interpretado por Al Pacino para fazer western spaghetti e filmes de espionagem na Itália e entra em crise se deve aceitar o convite, pois percebe a necessidade de se reinventar, já que novos galãs surgem. Enquanto isso, Cliff, que faz tudo para seu parceiro de trabalho, procura uma forma de conseguir mais trabalhos como dublê, pois se Dalton for para a Itália ele pode ser dispensado. Nesse meio tempo, Dalton se anima ao descobrir que Sharon Tate (Margot Robbie) e Roman Polanski (Rafal Zawierucha) são seus vizinhos. Cliff também vai dar carona para uma garota, que depois descobrimos que faz parte da seita de Charles Manson e mora no Rancho Spahn.

    O filme mostra ainda a atriz Sharon Tate (Margot Robbie) e sua vida em Los Angeles, acompanhando o marido Roman Polanski e cercada por seus amigos e ex-noivo Jay. Tate é apresentada como uma atriz em início de carreira e que sonha ter sucesso em Hollywood.
É interessante a cena em que vai ao cinema e fica observando a reação das pessoas enquanto assiste ao filme Arma secreta contra Matt Helm (1968, dirigido por Phil Karlson) em que atua com Bruce Lee (Mike Moh).
 
    Uma curiosidade é que na cena Tarantino mostra os pés da atriz, revelando a obsessão por apresentar pés femininos, ressaltada em outras obras como Kill Bill e Pulp Fiction, além da intertextualidade com outros filmes seus, ao apresentar os cigarros "Red Apple" (Pulp Fiction, Kill Bill, Bastardos Inglórios e até em Os oito odiados) e citar o personagem Antonio Marghereti (disfarce do sargento Dony Donowitz, interpretado por Eli Roth em Bastardos Inglórios), como diretor de um dos filmes de Dalton na fase italiana. Essa auto-referência ao seu universo cinematográfico aparece também ao apresentar no filme as filhas dos atores que são queridos, como Bruce Willis (Rumer Willis) e Uma Thurman (Maya Hawke, que fez sucesso em Stranger Things) e ao fazer uma homenagem a Jackie Brown, na cena em que Cliff, Dalton e sua nova esposa retornam da Itália, descendo no famoso aeroporto de Los Angeles, com sua parede de pastilhas coloridas.




   Com uma trilha sonora envolvente, que inclui sucessos como California Dreamin do The Mama and Papas (na versão de José Feliciano), Mrs. Robinson, de Simon e Garfunkel, Good thing, de Paul Revere e The Raiders e Out of Time, dos The Rolling Stones, Tarantino constrói uma obra com momentos inesquecíveis, como o divertido encontro entre Dalton e a precoce atriz mirim Trudi (a talentosa e graciosa Julia Butters), que dá conselhos para a sua carreira. Há ainda o momento em que o ator faz uma bela cena e supera sua insegurança e a briga entre Cliff e Bruce Lee, que foi criticada pela própria família do astro de kung fu, por mostrá-lo de forma arrogante.
   Vale destacar ainda os movimentos de câmera, como a insistência em mostrar os personagens de costas dirigindo seus automóveis e os sucessivos planos-sequência, quando Dalton está filmando um faroeste. A produção é uma das mais indicadas ao Oscar 2020, em 10 categorias, como Melhor Filme, Ator e Direção.

   Apesar de o início transcorrer de forma mais lenta, saboreando o glamour dos anos 1960, o final é ágil e há uma verdadeira catarse, com explosão de violência. O interessante é que o diretor repete a fórmula de outros filmes ao recorrer à "justiça histórica", mudando alguns acontecimentos reais, como em Bastardos Inglórios, em que a sobrevivente judia Shoshanna mata Hitler e seus compatriotas incendiando um cinema em Paris ou em Django Livre, em que Django açoita os senhores que o escravizaram. O diretor apresenta personagens reais como Steve McQueen e Sharon Tate, mas muda alguns fatos com o intuito de inovar na trama e surpreender o espectador. Por isso é preciso atenção para compreender o que é verdade e fake em seus filmes, mas isso não tira a graça de ver uma obra inteligente e bem-produzida, uma verdadeira homenagem a uma era que não existe mais. Uma reflexão sobre a mudança na cidade dos anjos e a respeito de nossa sociedade, de como a inocência e o glamour perdidos, frente à banalização da violência.



FICHA TÉCNICA
Era uma vez em Hollywood (Once upon a time in Hollywood, EUA, 2018)
Direção: Quentin Tarantino
Rick Dalton – Leonardo Di Caprio
Cliff Booth - Brad Pitt
Sharon Tate – Margot Robbie
Jay Sebring - Emile Hirsch
Kitty Kat - Margaret Qualley 
James Stacy - Timothy Olyphant 
Trudie - Julia Butters 
Tex – Austin Butler 
Lynette "Squeaky" Fromme - Dakota Fanning 
George Spahn - Bruce Dern 
Bruce Lee - Mike Moh
Wayne Maunder alias Scotty Lancer - Luke Perry 
Steve McQueen- Damian Lewis
Marvin Shwarz - Al Pacino
Sam Wanamaker - Nicholas Hammond 
Roman Polanski - Rafal Zawierucha 
Francesca Capucci - Lorenza Izzo
Voytek Frykowski - Costa Ronin 

ROTEIRO
Roteirista - Quentin Tarantino

PRODUÇÃO
Produtor - David Heyman 
Produtor - Quentin Tarantino

EQUIPE TÉCNICA
Diretor de fotografia - Robert Richardson

EMPRESAS ENVOLVIDAS
Distribuição internacional / Exportação - Sony Pictures Releasing International 
Produção - Heyday Films
Produção - Bona International Film Production
Produção - Columbia Pictures
Produção - Sony Pictures Entertainment
Distribuidor brasileiro (Lançamento) - Sony Pictures






Saturday, February 25, 2017

Cidade das estrelas

Fabíola Tarapanoff

Escolhas. O tempo todo fazemos escolhas, de forma consciente ou inconsciente. E se eu aceitasse aquele emprego? E se nós ficássemos juntos? Às vezes uma simples escolha pode alterar toda uma série de acontecimentos futuros. E há os sonhos. Sempre nos guiando. Para onde vou? O que quero?

La la land – Cantando estações (La la land, EUA, 2016) fala sobre sonhos e escolhas. Mia (Emma Stone) é uma garçonete em uma cafeteria no Studio da Warner Brothers que sonha em ser atriz. Sebastian (Ryan Gosling) é um pianista que aprecia o jazz em suas origens, ama Thelonious Monk e Dizzie Gillespie e quer ter seu próprio bar. Em busca dos sonhos na “cidade das estrelas”, eles acabam se esbarrando. Estranham-se. Reencontram-se. E se reconhecem como iguais. Como almas, artistas que buscam um lugar ao sol enquanto devem ouvir tantos nãos.

Passam as estações e aos poucos ele consegue fechar um contrato e faz parte de uma banda mais comercial. Enquanto isso, Mia realiza o sonho de montar sua própria peça, com roteiro escrito por ela e monólogo que ela mesma interpreta. Com o tempo, eles tentam conciliar carreira e vida pessoal, uma das grandes dificuldades da vida contemporânea.



Dirigido por Damien Chazelle e música composta por Justin Hurwitz, o filme é uma verdadeira ode à Hollywood clássica, com homenagem a uma série de filmes, como Cantando na chuva (1952), de Gene Kelly e Stanley Donen, em que eles dançam à luz do luar e Sinfonia em Paris, dirigido por Vicente Minnelli em 1951. Há ainda referências a Cinderela em Paris, dirigido por Stanley Donen em 1957, em que Emma Stone lembra Audrey Hepburn na "cidade luz" e Juventude transviada, de Nicholas Ray (1955), filmado no belo Observatório Griffith em Los Angeles, em que James Dean entra para a história no papel do atormentado Jim Stark. E há uma homenagem a Casablanca, de Michael Curtiz (1942), um romance que marcou gerações por um fim não exatamente feliz.

Há ainda espaço para referências ao cinema europeu, como O balão vermelho, dirigido por Alberto Lamorisse em 1956 e Os guarda-chuvas do amor, de Jacques Demy (1957)Apesar de críticas na mídia sobre o desempenho como cantores e dançarinos, Gosling e Stone fazem bem seu papel e os personagens são pessoas normais que tentam um espaço no mundo artístico e não gênios como Fred Astaire e Ginger Rogers.

Maior vencedor do último Globo de Ouro, com sete estatuetas, o filme concorreu a 14 indicações em 13 categorias do Oscar (Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Gosling), Atriz (Stone), Melhor Trilha Sonora, Melhor Design de Produção, Melhor Figurino, Melhor Fotografia, Melhor Montagem, Melhor Mixagem de Som, Direção de Arte, Melhor Roteiro Original e Melhor Canção (City of stars e Audition – the fools who dream). O musical conseguiu assim o chamado big five, com indicações nas categorias mais prestigiosas do Oscar: Filme, Direção, Ator, Atriz e Roteiro. Recentemente Trapaça conseguiu esse feito e em toda história do Oscar somente três longas venceram nessas cinco categorias: O silêncio dos inocentes, dirigido por Jonathan Demme em 1991, Um estranho no ninho, dirigido por Milos Forman em 1975 e Aconteceu naquela noite, dirigido por Frank Capra em 1934.



Alguns críticos consideraram o número de indicações excessivo, mas o filme tem seus méritos, além de ser exatamente o tipo de obra que agrada a academia, ao mostrar artistas buscando realizar seu sonho justamente em Hollywood. Acabou ficando com seis estatuetas, de Melhor Atriz (Emma Stone), Melhor Diretor (Damien Chazelle), Música Original (City of stars), Trilha Sonora, Fotografia e Design de Produção. No final da premiação La la land foi erroneamente anunciado como Melhor Filme por Warren Beatty e Faye Dunaway, mas a produção ao perceber o erro, logo chamou ao palco a equipe de Moonlight: sob a luz do luar, dirigido por Barry Jenkins.

 A direção de arte é inspirada e lembra muito os anos 1950, apesar de se passar na época atual.
As cenas de dança e as músicas são belas e lembram uma Hollywood esquecida. Impossível não terminar de ver sem sentir certa nostalgia e melancolia em pensar que as escolhas estão sendo feitas sempre e a todo momento. E simplesmente podem mudar o rumo inteiro de uma vida.

La La Land – Cantando Estações
(La la land, EUA, 2016)
Direção: Damien Chazelle

Música: Justin Hurwitz
Elenco: Emma Stone, Ryan Gosling, John Legend, Rosemarie DeWitt, Sonoya Mizuno e Callie Hernande.


https://www.youtube.com/watch?v=sirJQk0NmDc

Monday, January 11, 2016

Nós podemos ser heróis

Por Fabíola Tarapanoff


Por Fabíola Tarapanoff
Sensível e único. Poucos filmes conseguem uma ligação tão forte e afetiva com seu espectador, trazendo a lembrança de seu passado e adolescência e ver que não se estava tão sozinho, quando acreditava não encontrar seu lugar no mundo. Poucos trazem de forma tão sensível a descoberta da amizade e do amor. Dirigido por Stephen Chbosky, As vantagens de ser invisível traz a história de Charlie (Logan Lerman), um adolescente introvertido, assombrado pelo suicídio do seu melhor amigo e pelo acidente que matou sua tia, “sua pessoa favorita no mundo” quando era criança.
Com o início do ensino médio, ele sofre por não conseguir se enturmar, mas com o tempo conhece duas pessoas que mudam sua vida: Patrick, o garoto rebelde e homossexual (Ezra Miller) e sua meia-irmã Sam (Emma Watson). O trio inseparável passa por muitas descobertas: a decepção amorosa, o orgulho de terminar o colégio, a incerteza em relação ao futuro e do amor possível e real. Destaque para o protagonista, interpretado de forma sensível por Logan Lerman e para Ezra Miller, de Precisamos falar sobre Kevin, carismático e surpreendente sempre, além de Emma Watson que brilha com sua naturalidade e reafirmando o que todos já sabiam quando a viram como a bruxinha inteligente Hermione da série Harry Potter: ela é uma excelente atriz.
Há outros coadjuvantes que trazem muito sabor ao filme, como a punk budista Mary Elizabeth (Mae Whitman, de Scott Pilgrim contra o mundo) e atores como Paul Rudd como o professor de literatura e Melanie Lynskey, a Rose de Two and a half men, como a perturbada tia de Charlie.
O filme tem uma série de momentos e frases memoráveis, quando Sam pergunta a Charlie: “Por que as pessoas legais escolhem as erradas para amar?” E o menino responde: “Nós aceitamos o amor que achamos merecer”. Ou a frase: “Não podemos escolher de onde viemos, mas podemos escolher para onde vamos”.
Baseado no livro The perks of being a wallflower, escrito pelo diretor do filme, a obra é claramente autoral e mostra o início dos anos 1990, quando o mundo ainda não era tão dominado pelas novas tecnologias, perceptível pelo prazer do protagonista ao ganhar uma máquina de escrever. A trilha sonora do filme é primeira, com destaque para grandes sucessos dos anos 1970 a 1990, como New Order, The Smiths e David Bowie. Aliás, o camaleão do rock, que morreu ontem (10 de janeiro de 2016) é responsável pela música Heroes, um dos momentos mais bonitos do filme, quando o trio está em um carro em alta velocidade atravessando um túnel e Charlie olha admirado Sam subir no capô e abrir os braços como se quisesse voar. “Eu me sinto infinito”, diz o garoto. E nós sentimos que podemos ser heróis, apenas por um dia.


Ficha técnica
As vantagens de ser invisível
(The perks of being a wallflower, EUA, 2012)
Direção: Stephen Chbosky
Elenco:
Charlie - Logan Lerman
Sam - Emma Watson
Patrick - Ezra Miller
Alice - Elen Wilhelmi
Mary Elizabeth - Mae Whitman
Bill - Paul Rudd
Candance - Nina Dobrev
Pai - Dylan McDermott
Tia - Melanie Lynskey
Mãe - Kate Walsh
Derek - Nicholas Braun
Dra. Burton – Joan Cusack

Roteiro - Stephen Chbosky
Autor da obra original - Stephen Chbosky
Produtor - John Malkovitch
Produção Executiva - Stephen Chbosky
Diretor de fotografia - Andrew Dunn
Cinegrafista - Inbal Weinberg
Diretora de elenco - Mary Vernieu
Produção - Mr. Mudd Productions
Produção - Summit Entertainment
Distribuidor brasileiro - Paris Filmes 



Ficha técnica
As vantagens de ser invisível
(The perks of being a wallflower, EUA, 2012)



Direção: Stephen Chbosky
Elenco:
Charlie - Logan Lerman
Sam - Emma Watson
Patrick - Ezra Miller
Alice - Elen Wilhelmi
Mary Elizabeth - Mae Whitman
Bill - Paul Rudd
Candance - Nina Dobrev
Pai - Dylan McDermott
Tia - Melanie Lynskey
Mãe - Kate Walsh
Derek – Nicholas Braun
Dra. Burton – Joan Cusack

Roteiro - Stephen Chbosky
Autor da obra original - Stephen Chbosky
Produtor - John Malkovitch
Produção Executiva - Stephen Chbosky
Diretor de fotografia - Andrew Dunn
Cinegrafista - Inbal Weinberg
Diretora de elenco - Mary Vernieu
Produção - Mr. Mudd Productions
Produção - Summit Entertainment
Distribuidor brasileiro – Paris Filmes


Sunday, March 22, 2015

"Chaplin"

Por Fabíola Tarapanoff


“Sorria.” É simplesmente o que ele diz que deve fazer, depois de saber que a mulher que o marcou na sua juventude morreu. Diante da notícia, mesmo arrasado, ele tira o chapéu e acena à multidão que o espera na estação de trem em Londres, sua cidade natal, após fazer sucesso nos Estados Unidos. Seu nome? Charles Chaplin, interpretado de maneira inesquecível por Robert Downey Jr., que se entrega totalmente ao papel. Downey Jr. tinha 27 anos quando foi indicado ao Oscar de Melhor Ator em 1993 pelo papel, ganhando o prêmio BAFTA por sua impecável atuação. Na época da divulgação da obra, ele chegou a afirmar à imprensa: “Fazer Chaplin no cinema transformou minha vida. Em um momento sou eu mesmo. No minuto seguinte, sou Chaplin”, disse. Até hoje o ator se diz influenciado pelo humor do ícone, que serviu de inspiração para a criação do personagem Tony Stark, de O homem de ferro.

Dirigido por Richard Attenborough e baseado na sua autobiografia e na biografia de David Robinson (Chaplin: His Art e His Life), mostra a vida de um dos maiores mitos da sétima arte. A obra inicia mostrando Chaplin tirando sua maquiagem diante de um espelho e depois ele já idoso contando sua história ao biógrafo, o personagem fictício George Hayden (Anthony Hopkins).

A obra mostra sua infância pobre em Londres, quando teve de morar em um orfanato com seu irmão Sidney (Paul Rhys), porque sua mãe (Geraldine Chaplin, que faz o papel de sua avó, Hannah Chaplin), tinha crises de loucura e teve de ser internada em um hospício para tratamento.

Depois apresenta sua juventude, quando começa a trabalhar para a companhia de teatro de Fred Karno e consegue sucesso como um bêbado que chama a atenção de todos na sala de espetáculos. Nessa época conhece A grande oportunidade vem quando Mack Sennett o convida para fazer filmes na Califórnia e ele passa a receber 150 dólares por semana. Aí ele tem a ideia de criar um personagem que se torna sua marca: o adorável Vagabundo, Carlitos. O sucesso é tão grande, que Chaplin exige receber um salário maior que Sennett e cria seu própria estúdio.




O filme mostra como foram criados os grandes filmes de sua vida, como O garoto, Em busca do ouro e seu perfeccionismo, chegando a rodar mais de 50 vezes a cena em que a florista cega confunde o Vagabundo com um milionário devido ao bater de portas de uma limusine em Luzes da cidade. Também são retratados seus amores, como a primeira mulher, Mildred Harris (Milla Jovovich), que era menor de idade na época, Lita Grey (Mariah Moore), Paulette Goddard (Diane Lane), Oona O’ Neill, filha do escritor Eugene O’Neill (Moira Kelly) e Hetty (Moira Kelly), uma atriz de vaudeville que acaba se casando e morrendo depois em uma epidemia de gripe e que Chaplin nunca esquecerá.

Destaque para o momento em que Chaplin é exilado dos Estados Unidos, tendo de morar na Suíça, por ser considerado comunista por J. Edgar Hoover (Kevin Dunn) devido ao filme O grande ditador, que trazia uma sátira à Adolf Hitler. Chaplin considerava-se, na verdade, um humanista. Em 1973 ele retorna ao país que considerava a "terra das oportunidades e onde os sonhos acontecem", para receber um Oscar honorário pelo conjunto de sua obra. Chaplin morre no Natal de 1977 em sua casa na Suíça, cercado pelos filhos e netos.

Chaplin considerava-se, porém, um humanista, como prova com seu belo discurso do filme, quando ele se rende ao cinema falado. O ator retorna aos EUA em 1973, quando recebe um Oscar honorário pelo conjunto de sua obra. Ele morre no Natal de 1977, na Suíça, cercado por Oona e seus filhos e netos. Genial e eterno como poucos, ele sempre será lembrado por fazer o que pedia em sua música, da obra Luzes da ribalta, que ganhou o Oscar de Melhor Canção em: Smile.


Ficha Técnica

Chaplin
(Chaplin, EUA, 1992) - Direção: Richard Attenborough
Roteiro:

Baseado nas obras Charlie Chaplin, Sua Arte, Sua Vida, de David Robinson e
Minha Autobiografia, de Charles Chaplin
 Willian Boyd, Bryan Forbes e William Goldman
Música: John Barry


Elenco

Robert Downey Jr.......................................Charles Spencer Charles
Geraldine Chaplin........................................Hannah Chaplin
Paul Rhys.....................................................Sidney Chaplin
John Thraw...................................................Fred Karno
Moira Kelly..................................................Hetty Kelly
Anthony Hopkins………….........................George Hayden
Dan Akroyd..................................................Mack Sennett
Marisa Tomei…………………………........Mabel Normand
Penelope Ann Miller………………….........Edna Purviance
Kevin Kline…………………………...........Douglas Fairbanks
Maria Pitillo…………………………….......Mary Pickford
Milla Jovovich………………….…...……....Mildred Harris
Kevin Dunn………………….……………...J. Edgar Hoover
Deborah Moore……………..……………....Lita Grey
Diane Lane……………….……………........Paulette Goddard
Nancy Travis……………….………….........Joan Barry
James Woods……………..…………….......Joseph Scott
Hugh Donner……………..……………........Charlie aos 5 anos
Nicholas Gatt…………...……………...........Sydney aos 9 anos
Thomas Bradford……...……………….........Charlie aos 14 anos


Sunday, March 08, 2015

"O jogo da imitação"

"Às vezes aqueles que nunca imaginamos conseguem fazer coisas que ninguém imaginaria."  A frase, muito presente no filme O jogo da imitação (The imitation game, ING, 2014), ajuda a entender um pouco a figura complexa de Alex Turing. Brilhante, anti-social, genial. Um homem bem à frente de seu tempo. Sem fazer questão de agradar ninguém, Turing foi um matemático brilhante que simplesmente criou um novo campo na área das ciências exatas.

Ele foi um dos pioneiros na área da computação e criou uma máquina em Bletchey Park que desvendava o famoso Enigma, que criava mensagens criptografadas para o exército alemão. Conseguiu assim descobrir o significado dessas mensagens, contribuindo para o fim da segunda Guerra Mundial e poupando milhões de vidas."

Benedict Cumberbatch tem uma atuação irretocável e emocionante como o gênio que morreu falido e incompreendido (ele era homossexual e foi obrigado a se submeter a um tratamento hormonal para não ser preso) e se suicidou aos 41 anos. Somente foi perdoado 60 anos depois, recebendo honras póstumas da Rainha Elizabeth II, por suas contribuições inestimáveis.

Dirigido por Morten Tyldun, o filme O jogo da imitação foi indicado a oito Oscars (incluindo Melhor Diretor, Melhor Ator - Benedict Cumberbatch, Melhor Atriz Coadjuvante - Keira Knightley, Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Trilha Sonora, Melhor Edição e Melhor Direção de Arte) e ganhou Oscar de Melhor Roteiro Adaptado (Graham Moore), baseado na obra Alan Turing: The Enigma, de Andrew Hodges. No discurso, Moore, que disse ter tentado se suicidar aos 16 anos por ser homossexual, disse: "Nunca pensei que pisaria num palco como esses um dia. Não se importe com que digam, continue diferente."



A obra conta com grandes atores e atrizes, como Keira Knightley, que interpreta Joan Clarke, matemática brilhante e única mulher na equipe de decodificação de Turing. Joan foi noiva de Turing por um período e quis casar com ele, mesmo sabendo que era homossexual. Destaque ainda para as atuações de Allen Leech e Matthew Goode (da série de TV Downton Abbey) e Charles Dance (da série de TV da HBO, Game of Thrones).

Sobre a obra, o ator Benedict Cumberbatch, um dos mais celebrados da atualidade por sua brilhante performance como o mais famoso detetive de todos os tempos na série Sherlock da BBC, disse:

"Eu fiquei surpreso de ver o quão pouco eu sabia antes de ler a história. É uma história real tão comovente que precisa ser ouvida. Há uma urgência em apresentá-la ao mundo", acrescentou.



O jogo da imitação (The imitation game, ING, 2014)
Direção: Morten Tylder
Elenco: Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode, Charles Dance, Mark Strong e Allen Leech.
Roteiro Adaptado: Graham Moore
Trilha Sonora: Alexander Desplat
Produção: Warner Bros., Black Bear Pictures, Holden Automative e Diamond Pictures.

Tuesday, February 17, 2015

"Anna Karenina"

Por Fabíola Tarapanoff

Um romance intenso e proibido na Rússia imperial. Com roteiro de Tom Stoppard e baseado no romance do escritor russo Liev Tolstoy ("Анна Каренина", 1877), "Anna Karenina" (Reino Unido, 2013 - Direção: Joe Wright), mostra a história de Anna (Keira Knigthley), casada com o ministro Karenin (Jude Law) e com que tem um filho, Seryozha.

Quando visita Dolly (Kelly Macdonald), casada com seu irmão "Stiva" Oblonsky (Matthew MacFayden) em Moscou, tentando dissuadi-la de um divórcio, conhece em uma estação de trem o conde Alexei Vronsky (Aaron Taylor-Johnson).

Ele passa a cortejá-la, mas apesar de atraída, Ana resolve voltar a São Petersburgo. No entanto, Vronsky a encontra na estação de trem e declara seu amor.



Os dois vivem uma história de amor fulminante, mas que será mal-visto pela sociedade. Além disso, Karenin não concede o divórcio e a impede de ver seu filho. Anna acaba definhando com tudo isso, o que a conduz a um destino trágico.

É interessante notar a figura de Kostya Levin (Domhnall Gleeson), que é um alterego do escritor Tolstoy, revelando suas crenças e filosofia de vida.

Destaque ainda para a belíssima direção de arte, que traz o palco literalmente para a tela de cinema, com figurinos sofisticados, edições ousadas e congelamento de personagens como recursos para acentuar aspectos da trama.


Atemporal, o filme traz uma história de amor do épico romance de Tolstoy, considerado pelo escritor russo Fiódor Dostoiévski como "impecável obra de arte" e pelo escritor norte-americano William Faulkner, o "melhor romance já escrito".

Ficha técnica
"Anna Karenina" (Reino Unido, 2013 - Direção: Joe Wright)
Elenco: Keira Knigthley, Jude Law, Aaron Taylor-Johnson, Mathhew MacFayden, Kelly Macdonald e Domhnall Gleeson.
Produção: Hassen Brahit/Studio Canal/Focus Features/Working Title Films
Distribuidor no Brasil: Universal Pictures

Sunday, June 01, 2014

Metáforas de fé


"As Aventuras de Pi"




Fabíola Tarapanoff

A fé só revela sua força em meio à tempestade. Nada mais verdadeiro e profundo e que se mostra de forma literal nessa bela viagem visual do diretor Ang Lee: "As aventuras de Pi".

Mostra a história de Pi Patel (Suraj Sharma), filho do dono de um zoológico em Pondcherry, antiga colônia francesa na Índia. Para evitar a falência devido à retirada de verba da prefeitura, seu pai resolve abandonar o país e ir para o Canadá em um navio cargueiro com toda a família e os animais. O navio naufraga em uma tormenta e Pi se vê em um mesmo barco com uma zebra, uma hiena, um orangotango e um tigre, Richard Parker. Em meio a todo tipo de adversidade, ele aprende a sobreviver e a se tornar um homem. O filme traz metáforas inteligentes e aborda de maneira profunda temas ligados à Religião ("A fé só é testada no momento mais adverso") e à Filosofia (sobre o despertar do lado selvagem do homem e de sua necessidade para sobreviver em um mundo de conflitos). Sempre com pitadas de humor, o versátil diretor Ang Lee (responsável por obras como "O segredo de Brokeback Mountain" e "O Tigre e o Dragão") novamente se supera, em um filme que nos faz refletir sobre a vida e o seu significado.

Ficha técnica:


"As Aventuras de Pi" ("The Life of Pi", EUA, 2012)
Direção: Ang Lee
Elenco: Suraj Sharma, Irrfan Khan, Adil Hussain e Gérard Depardieu.